Homem X Mulher. Uma luta sem vencedores

Nos últimos tempos, temos a impressão de que vivemos em um constante cabo de guerra: homem X mulher. Eles fazem força de um lado, elas de outro. Tudo isso para ver quem é melhor ou tem mais valor. Porém, esse não é o projeto de Deus para a humanidade. Então, como essa disputa pode ter vencedores? 

Embora tenha ganhado força recentemente, essa luta é antiga. É, na verdade, uma consequência da desobediência de Adão e Eva, no Jardim do Éden. Ou seja, antes do pecado original, homem e mulher viviam no estado que o Catecismo da Igreja (CIC) chama “de santidade e justiça original”.

No entanto, depois da queda, essa harmonia entre toda a criação é quebrada. A partir disso, Deus diz à mulher: “ele te dominará (Gn 3,16). Logo, há uma ruptura entre aqueles que deveriam se ajudar.

Criados por Deus em igual dignidade, à imagem e semelhança do Senhor, homem e mulher passam, então, a enfrentar um “desnível” na relação. Hoje, observamos uma tentativa de restaurar esse equilíbrio.

Contudo, a solução proposta – que seria a eliminação radical de qualquer diferença entre os sexos – conduz apenas a mais erros. É justamente isso que identificamos nas ideologias que têm se fortalecido na cultura moderna. Desse modo, a competição homem x mulher só fica mais acirrada

Mas, afinal, qual o problema em querer acabar com todas as diferenças? 

 

Homem e mulher os criou

 

Apesar de terem o mesmo valor diante do Pai, homem e mulher não são, nem devem ser, idênticos. Isso porque as caracterísitcas particulares de cada sexo foram pensadas por Ele para que se complementem.

“Não é que Deus os tivesse feito apenas “pela metade” e “incompletos”; criou-os para uma comunhão de pessoas, na qual cada um dos dois pode ser “ajuda” para o outro, por serem, ao mesmo tempo, iguais enquanto pessoas (“osso dos meus ossos…”) e complementares enquanto masculino e feminino” (CIC 372).

Então, ao buscar acabar com as diferenças entre os sexos, a humanidade se afasta do projeto divino. Por isso, São João Paulo II nos faz um alerta, na Carta Apostólica Mulieris Dignitatem. Ele comenta que, ainda que a oposição ao “domínio” do homem seja justa, a mulher não deve se apropriar de características masculinas para fazer isso. 

Por serem imagem e semelhança do Pai, homem e mulher refletem, cada um à sua maneira, a sabedoria e a bondade dEle. “As ‘perfeições’ do homem e da mulher refletem algo da infinita perfeição de Deus: as de uma mãe as de um pai e esposo” (CIC 370).

Para isso, cada sexo conta com preciosas particularidades. Ainda que sejam diversas, não são menores ou maiores que outras. São, simplesmente, recursos sonhados por Deus para nos auxiliar na caminhada. 

A masculinidade

O homem é chamado a ser viril, protetor e provedor. Deve estar disposto a dar a vida pelos seus e a fazer o melhor para conduzi-los no caminho de santidade. Tem o papel de ser o “chefe” do lar, porém, não por meio do domínio que é consequência do pecado original, mas do serviço e do cuidado

Assim como o Senhor é Pai e cuida de todos nós, o homem também tem a vocação à paternidade. Deve ser justo, sabendo demonstrar o amor na firmeza de suas ações. 

A feminilidade

A mulher, por sua vez, tem a natureza mais delicada, o que não a impede de ser forte e virtuosa, por exemplo. Tem o dom de enxergar o homem com o coração e, com isso, é chamada a cuidar de toda a humanidade. Assim, é vocacionada à maternidade, não somente física, mas espiritual. 

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A missão feminina também pode revelar a beleza de Deus, como nos mostram algumas passagens bíblicas. “Sião dizia: ‘Iahweh me abandonou; o Senhor se esqueceu de mim’. Por acaso uma mulher se esquecerá da sua criancinha de peito? Não se compadecerá ela do filho do seu ventre? Ainda que as mulheres se esquecessem, eu não me esqueceria de ti” (Is 49, 14-15).

 

Unidos pelo amor e para amar

 

Criados a partir do amor divino, ambos são chamados a amar. No Gênesis, Deus diz: “não é bom que o homem esteja só. Vou fazer uma auxiliar que lhe corresponda” (Gn 2,18). E então, juntos e abençoados pelo Pai, “se tornam uma só carne” (Gn 2,24).

Mesmo com o pecado original, essa união continua sendo sonhada por Ele e, hoje, pode ser vivida com o sacramento do matrimônio. No casamento, os dois vivem um para o outro. A masculinidade e a feminilidade, enraizadas na fé, servem como base para formar uma família. 

Além disso, o casal é chamado a tornar seu amor fecundo no Senhor, com a geração de filhos. “Ao transmitirem aos seus descendentes a vida humana, o homem e a mulher, como esposos e pais, cooperam de uma forma única na obra do Criador” (CIC 373).

Já os que decidem abraçar a entrega total a Deus, com o celibato, abrem mão de viver a vocação matrimonial humana. Porém, se tornam esposos de Cristo e também devem fazer com que esse amor renda frutos, com a maternidade e a paternidade espiritual

O companheirismo entre homem e mulher se manifesta no cuidado aos irmãos e no respeito à dignidade humana. 

Sendo assim, ao falarmos de submissão da mulher, precisamos lembrar que São Paulo também faz uma recomendação ao homem. O apóstolo afirma que o esposo deve amá-la “como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela” (Ef 5, 25).

Ou seja, não deve haver uma relação “homem x mulher”, em que ninguém sai ganhando. Não se trata de apagar as diferenças entre a masculinidade e a feminilidade.  Mas, sim, de lutarem juntos, cada um com suas particularidades, contra aquela herança do pecado original, por meio do respeito à dignidade do outro, do amor e do serviço.